Faz exatamente 13 anos que conheci e me congrego (de alguma forma) na igreja Betesda e naquela época, meados de 1998, eu já escutava de forma encantada o seu discurso de vanguarda e percebia notoriamente as insatisfações dos mais conservadores e a euforia dos mais progressistas. Mas, ainda que dividida entre essas dua alas (ou melhor dizendo, rótulos), existia, mesmo que de forma ilusória, um espírito de unidade e uma tentativa de se construir uma identidade para a Betesda.
Lembro-me bem que, ainda na gestão do nosso querido Allison, essas questões sobre identidade, teologia, poder, fundamentalismos, liberalismos borbulhavam pelos corredores. Claro que não foi do dia para noite que muitas igrejas decidiram que não queriam mais caminhar junto com a Betesda, esse foi um processo lento, mas continuo.
Anos se passaram para que um dos piores traumas para a Instituição Betesda acontecesse de fato. Rachas, “amizades” desfeitas, pessoas magoadas… muita coisa aconteceu. Mas, algo de positivo poderíamos tirar de todo esse processo doloroso: em 2007, pastores e membros, especialmente os da Betesda do Ceará, tiveram uma rica oportunidade de se pronunciarem e escolherem que caminhos gostariam de trilhar.
Em tese, e só em tese mesmo, quem resolvesse ficar na Betesda do Ceará, não estaria simplesmente abraçando as ideias de sua igreja local, ou protegendo os interesses do seu “pequeno vaticano” particular. Quem se propôs a ficar estaria disposto a continuar a andar numa trilha sem volta, um caminho de reflexão que na grande maioria das vezes desagradaria a um público evangélico fundamentalista, conservador, bairrista e preconceituoso.
Um caminho estreito, árduo, que não tem a “glória” das multidões, a aceitação da mesa dos escarnecedores, nem o sucesso financeiro prometidos pelos pseudos televangelistas de plantão. Não seríamos mais chamados para pregar nos grandes eventos gospel, nossos nomes seriam muitas vezes difamados… mas, em contrapartida, esse caminho estaria comprometido com a promoção da justiça e a construção de um mundo melhor hoje, um Reino de Deus que se instaura por intermédio de mãos e pés de carne.
Infelizmente, quando olho hoje para a Betesda do Ceará o que vejo? Visualizo “franquias” fragmentadas e fundamentadas no cada um por si (e Deus por todos?), tentando a todo custo (questão de sobrevivência) aparecer novamente no cenário gospel, querendo “limpar-se” da “queimação de filme” que os afastaram da lógica evangélica (mas que nos trouxeram para mais próximo de Deus e do próximo). Negam assim, uma história de luta e resistência, de reflexão e companheirismo, em prol da lógica capitalista religiosa, do individualismo e do “se vira nos 30”.
Aliás, uma franquia é mais coerente do que temos aqui hoje no cenário da Betesda do Ceará. Porque quem deseja abrir uma franquia, seja ela qual for, no mínimo precisa acreditar no produto que está se propondo representar. Ter confiança na qualidade e respeitar a marca.
Digo tudo isso porque me sinto enlutada. De certa forma, a autonomia das igrejas Betesda do Ceará traz um desligamento da Betesda de São Paulo e o que restará aqui não passará de uma propaganda enganosa da Instituição Betesda, que sempre terá como referência o nome de seu maior representante Ricardo Gondim (mesmo que se tente negar, ou apagar isso).
Ao invés de se juntarem e fortalecerem uns aos outros para persistirem nessa caminhada, que sabíamos que não seria fácil, e que seria estreito, optaram pelo caminho largo, mais fácil e confortável de trilhar, porém, que traz como consequência mais isolamento, segregação, dicotomia entre Sudeste – Nordeste e que joga no lixo toda a luta e história de uma igreja que SEMPRE optou andar na contramão da lógica mercadológica e dogmática evangélica.
Declaro aqui que eu não concordo com esse isolamento “elegante” e decido continuar andando pelo caminho que escolhi em 1998. O caminho da reflexão e rupturas, o caminho da dúvida e das incertezas (pois só assim a fé faz sentido), o caminho mergulhado na Graça de Deus que anuncia o Reino que já está no meio de nós.
Ricardo, conte com meu apoio e carinho. Não continuo caminhando com você apenas pelo que você pensa, diz, ou escreve. Não quero apenas caminhar com sua teologia; quero caminhar com gente como você que erra, acerta, volta, repensa, constrói, desconstrói, perdoa, chora, ri, abraça, beija, ama. A grandiosidade da sua humanidade é o que mais me encanta e me convida a caminhar junto! Não abaixo, nem tão pouco acima, mas ao lado, como uma igual. Sinto-me honrada de fazer parte dessa história chamada Betesda. História essa escrita não com tinta, mas com o sangue e as lágrimas dos que persistem nessa eterna e constante construção.
Grata.
Cláudia Sales
“O melhor ainda está por vir”
junho 18, 2011 at 3:52 pm
Bom discernimento e nobre escolha. Parabéns!
Quanto ao Ricardo, agrego meu apoio.
junho 18, 2011 at 7:11 pm
Parabéns Cláudia. Vc expressou bem o que está acontecendo. Grata pelo apoio e vamos continuar caminhando… bjo
junho 21, 2011 at 1:36 am
Como disse Geraldo Vandré: “Caminhando e cantando. E seguindo a canção.” Conte com meu apoio!
junho 18, 2011 at 8:55 pm
Concordo com você Claudinha. Para alguns enquanto foi conveniente caminharam com o Ricardo, para outros é ora de dizer para sua comunidade: “quem manda aqui sou eu” e tomar outro rumo, embora dentro da mesma Betesda.
junho 21, 2011 at 1:39 am
Pergunto-me: como se pode estar dentro sem tá dentro??? Parece confuso, mas acho que você entendeu… kkkkk
junho 19, 2011 at 4:12 am
Querida Claudia,
Entrei na Betesda em 2002, quatro anos depois de você, e me senti feliz por fazer parte da Betesda durante sete anos. Seu estilo vanguardista, como você abordou, pra mim era um quebra de paradigmas ridículos, como mulheres se enfeitarem, homens deixarem seus cabelos crescerem e poderem ir de bermuda aos cultos semanais, usar retro-projetor nos cultos, bater palmas durante a celebração, ouvir músicas seculares com senso crítico e por aí vai. Fiquei vislumbrado, em 2005, logo no começo da propagação da “teologia relacional”, com a possibilidade de Deus construir a nossa história conosco. Muito incrível isso pra mim na época (Até aí nada de mais pra mim, pois, como arminiano que sou, corroboro com a afirmação, embora discorde no tocante ao desprovimento onisciente de Deus do futuro). Em 2007 sofri com o cisma e optei pela Betesda por pensar numa mesma vanguarda de propagação do Reino. Mas, em 2009, saí da Betesda.
Considero muito você, Claudia, mas discordo de você (nada pessoal, só no tocante a visão teológica e entendimento do cumprimento do evangelho). Discordo quando você afirmou no seu texto que quem não ter andado ou não andar no pensamento da Betesda sudestina é preconceituoso e escarnecedor e que não promove a justiça e nem o caminho mergulhado na Graça, tudo isso por ser ortodoxo (que, necessariamente, não é fundamentalista conservador). Como ortodoxo que sou, discordo completamente do entendimento pós-modernista liberal no campo teológico e sociológico que a Betesda prega. Discordo e o rechaço. Expressei-me, pois não sou preconceituoso, nem escarnecedor e nem as demais características apresentadas por você, por não concordar com você. A ortodoxia teológica prática é a melhor via de entendimento escriturístico trilhado por muitos protestantes históricos e certos pentecostais e transmissor do Reino de Deus.
Reafirmo. A considero e espero ter me expressado da melhor forma possível. No mais, Deus abençoe a você ao estimado Magela!
junho 19, 2011 at 5:09 am
Querido Marlon, acho que vocë não entendeu o que escrevi. Não chamei vocë, ou quaquer outro que não concorde com minha forma de pensar de “preconceituoso e escarnecedor e que não promove a justiça e nem o caminho mergulhado na Graça”. Disse que o discurso da Betesda não agradaria as multidões, que não teriamos a aceitação da mesa dos escarnecedores, nem o sucesso financeiro prometidos pelos pseudos televangelistas de plantão. Disse ainda que a nossa reflexão grande maioria das vezes desagradaria a um público evangélico fundamentalista, conservador, bairrista e preconceituoso (o que é verdade!). Não coloquei todo mundo nessa sacola, ela só cabe para quem se coloca dentro dela. A régua de medida não pertence a mim (Deus me livre!)! Cada um é que sabe de si e se cabe (ou não) dentro dessas caracteristicas que eu enumerei. E mais, isso tudo não tem nada a ver com teologias, com relacional (isso virou uma praga! Aff…). Não concondo com os calvinistas, mas nem por isso os desrespeito, os difamo, ou digo que eles pregam um outro evangelho. Cada um escolhe pra si a interpretaÇão que lhe convém, que mais faÇa sentido pra sua fé. Me descupe se você se viu nesse texto, não tive a intensão de direciona-lo a ninguém em especifico… Forte abraÇo! Tenho muito carinho por você independentemente das suas crenÇas, ou religiâo. Aliás, para mim isso é o menos importante. Bjos e escreva sempre que tiver vontade!
junho 19, 2011 at 1:45 pm
Olá Claudinha,
Concordo com você sobre essa questão da “autonômia”. O Ricardo tem uma liderança na mente e no coração de muitas pessoas na Betesda que talvez sejam tão profundas quanto as raízes de uma mangueira. Betesda é quase que o sobrenome de Ricardo Gondim (30 anos de presidência não são 30 dias).
Na verdade essa autonomia é o resultado da falta de clareza que a Betesda desde de 2005 propaga. Basta dar uma breve lida na declaração de fé e veremos que muito do que está escrito ali já deixou de ser base referencial faz tempo. Como disse o Pastor Ricardo nos vídeos “vazados” do último encontro de pastores, estamos vivendo um período meio “gay enrustido”, ou seja, precisamos “sair do armário”!
Então seria mais justo e coerente que aqueles lideres que não desejam caminhar com a proposta saíssem e se suas congregações escolhessem se queriam ou não seguir seu pastores. Esse negócio de Betesda autônoma para mim parece “gambiarra”.
Por essas e outras eu decidi que não caminho mais com a Betesda, seja a do Sul ou do Nordeste. Não estou com isso escolhendo o caminho estreito ou mesmo o largo, mas sim o da minha consciência e fé em Cristo. Temos que discernir qual o local nos cabe e nos faz bem.
Um grande abraço para você e para o Majela.
Jorge
junho 19, 2011 at 1:54 pm
Olá Jorge!
Fiquei muito feliz com seu comentário!
Concordo plenamente com você e só pra esclarecer não acho que todos que saíram da Betesda escolheram o caminho largo… o texto tem contexto e vc mais do que ninguém deve imaginar qual é! =D Um bjão pra vc e sinta-se a vontade para voltar outras vezes nesse espaço e enriquece-lo com suas contribuições!
junho 19, 2011 at 4:48 pm
Com certeza, estarei sempre lhe visitando, e se quiser também, pode dar uma passadinha lá no meu.
Abraços
junho 20, 2011 at 12:01 am
Claudinha,
A Betesda foi e é para mim uma base da qual me orgulho, e por isso, hoje e amanhã continuarei dando meu apoio a um pensamento crítico, à profundidade, a coragem de, mesmo diante de apedrejamentos, continuar a difícil caminhada da reflexão e do eterno aprendizado e do amor, a base do cristianismo. Sinto-me orgulhosa de fazer parte de um time que pensa. O que rejeito vigorosamente são os ataques pessoais e odiosos, pois isto sim, não tem nada a ver com o evangelho de Cristo, que também não foi entendido, que foi atacado e considerado como um criminoso qualquer pelas idéias que expunha sem medo algum. Não concordar e se contrapor a idéias é até salutar. Quem faz isto com respeito é digno. Dar golpes baixos, atacar, difamar por falta de argumentos é coisa de fracos, rasos e covardes. Belo texto.Grande beijo.
junho 20, 2011 at 12:25 am
Jackie,
fiquei muito feliz com sua visita! Me sinto muito honrada com sua reflexão aqui nesse espaço! Grande bjo!
junho 20, 2011 at 11:38 am
Amo o pr. Ricardo e a Betesda e foi lá que aprendi que posso ser amada por Deus com todos os meus defeitos, pois Ele me ama incondicionalmente, cresci e amadureci humana e espiritualmente e digo q qualquer pessoa q ame e apóie o pr Ricardo tb terá o meu amor e o meu apoio.
Em Cristo.
junho 20, 2011 at 7:27 pm
Claudinha,
Você é e sempre será lúcida e coerente nas idéias e posicionamentos que defende. Concordo inteiramente com você e sou admiradora do Pastor Ricardo Gondim. Embora não frequente mais nenhuma igreja organizada, continuo bebendo na fonte das pessoas pessoas sábias e “normais”, entre as quais incluo você e o Pastor Ricardo. Admiro-te muito.
junho 21, 2011 at 1:37 am
Oxe Lúcia, fico até corada com suas palavras…
Muito obrigada pela reflexão e por tornar esse pequeno espaço de discussão mais rico. Forte abraço e saudades…
junho 20, 2011 at 7:31 pm
Olá Claudinha….
Te conheço nao apenas de ouvir falar mas de contigo andar, rir, falar mal do povo feio, mangar como bom cearense que somos. Só pra variar vc colocou em palavras aquilo que sinto, consegui achar uma palavra certa para definir a situação da Betesda Ceará: FRANQUIA. Estou na Betesda hoje por causa da comunidade que faço parte, nas mais por causa dos meus mentores e herois, afinal eles não são mais da Betesda do Ceara mesmo? (Ricardo Pena, Mauro Barcelar, Ricardo Gondim e Edney Mello) Apenas o Jansen, mas o Jansen não conta! Ele é transcendental! E há pessoas como vc, que sendo da Betesda ou não me influenciam e me instigam do mesmo jeito!
Obrigado por expressar-se por mim!
junho 21, 2011 at 11:15 pm
Querida CLAUDIA,
Não te conheço nem de ouvir falar muito menos de contigo andar, por isso peço licença para tambem manifestar, junto com você, meu apoio ao RICARDO. Há +- 13 anos ouço as Mensagens pregadas por ele. Não sou da Betesda, aliás não sou membro de nenhuma igreja.
julho 20, 2011 at 11:26 pm
querida claudinha, muito consistente seu comentario, tambem cheguei na betesda em 1998, fiquei encantado com a igreja que nos ensinava a pensar, hoje é com muito pesar que vejo a igreja retroagir, começar andar para trás gerando um conflito idéologico, parecendo que perdeu o objetivo a ser alcançado, verdadeio samba do criolo doido, cada igreja uma doutrina, assim como voce, tambem estou nessa com o pastor ricardo, não da mais para retroagir,como moro em fortaleza a unica saida é congregar na betesda dos nomades. ou seja, estou na betesda virtual. um abraço pra voce outro para o querido magela