abril 2010


Vivemos em um país em que o mito da democracia racial ainda é muito forte. Escuto muito de familiares, amigos, colegas de doutorado que no Brasil não existe racismo; que todos possuem as mesmas oportunidades e que se você realmente quiser superar os conflitos e injustiças sociais você consegue. Simples assim! Apenas uma questão de boa vontade.

Quando ouço coisas deste tipo, lembro-me dos tempos de criança, quando uma amiga de minha mãe olhava para mim e para o meu irmão e dizia: “-Que lindo seus filhos! Mas se ela fosse da cor do menino, seria mais linda ainda!”. Ou ainda em minha adolescência quando a mãe do meu namoradinho disse que não aprovava o nosso relacionamento por eu ser “escurinha”. Estas duas situações são difíceis de serem esquecidas e ignoradas… e mostra de como o racismo de maneira sutil, o que o torna mais difícil de ser combatido, ainda é bem presente em nossa “Pátria Mãe Gentil”!

Quando pensamos na igreja, achamos que este tipo de problema também não existe. Com um discurso de que “somos todos iguais” ou ainda “um só em Cristo Jesus”, somos levados a não refletir sobre as questões de raça e etnia nos espaços religiosos. Outro engano… Nossas igrejas, na grande maioria das vezes, pregam de maneira oculta o que chamamos de “racismo institucional”, ou seja, “quando uma organização ou instituição coletivamente deixa de oferecer um serviço adequado e profissional às pessoas por causa da cor, cultura ou origem étnica” (Conselho Mundial de Igrejas, 2004, p. 12-13[1]).

Marco Davi de Oliveira[2] explica que o racismo institucional pode ocorrer em nossas igrejas por intermédio da teologia, da educação e pela falta de referências; ou seja, possuímos uma teologia centrada na cultura euro-estadunidense que demonizou e tornou inferior tudo o que poderia lembrar a cultura africana, negra; nossa educação religiosa não reflete sobre temas polêmicos, como os que envolvem a sexualidade e o racismo, como se eles simplesmente não existissem, ou ainda, não tivessem tanta importância; e por fim, é notória a pouquíssima referência de homens e mulheres negras na liderança das igrejas.

Precisamos urgentemente tentar fazer um diálogo com esta questão tão pouco debatida no cenário evangélico. Nossas igrejas contribuíram para que a situação de discriminação e marginalização dos negros no Brasil fosse por tanto tempo perpetuadas e por isso, temos uma dívida a pagar. Acredito que um primeiro passo está sendo dado… Alguns nomes do cenário evangélico estão escrevendo e posicionando-se quanto esta questão, o reconhecimento da existência do problema é o primeiro passo para superá-lo.

Precisamos, urgentemente, de uma leitura bíblica que desenvolva a cidadania à cultura negra afro-descendente e uma teologia que reflita “criticamente sobre os fundamentos e a coerência interna de sua própria tradição de fé” (SOARES, 2008, p. 34[3]) se quisermos que a nossa evangelização continue a ser um acontecimento de Boas Novas, e não um escândalo, ou ainda um veículo cultural estranho.

E você? Já pensou sobre isto? Sua igreja, seu pastor, professor de escola bíblica já conversou com você sobre esta questão? Não? Que tal começar agora?


[1] Conselho Mundial de Igrejas. Justiça Transformadora: Ser Igreja e Superar o Racismo. Geneva, Suíça, 2004.

[2] OLIVEIRA, Marco Davi de. A religião mais negra do Brasil. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2004.

[3] SOARES, Afonso M. L. No espírito do Abbá: fé, revelação e vivências plurais. São Paulo, SP: Paulinas, 2008.

Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem.

Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens.

Tomando a palavra, disse-lhes:

– “Em verdade, em verdade vos digo:

Felizes os pobres de espírito,  porque  deles é o reino dos céus.

Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque  serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque eles…”

Pedro o interrompeu:
– Mestre, vamos ter que saber isso de cor?

André perguntou:
– É pra copiar no caderno?

Filipe lamentou-se:
– Esqueci meu papiro!

Bartolomeu quis saber:
– Vai cair na prova?

João levantou a mão:
– Posso ir ao banheiro?

Judas Iscariotes resmungou:

– O que é que a gente vai ganhar com isso?

Judas Tadeu defendeu-se:
– Foi o outro Judas que perguntou!

Tomé questionou:
– Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?

Tiago Maior indagou:
– Vai valer nota?

Tiago Menor reclamou:
– Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.

Simão Zelote gritou, nervoso:
– Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?

Mateus queixou-se:
– Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!

Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado  nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:

– Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica? Quais são os objetivos gerais e específicos?
Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?

Caifás emendou:

– Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades integradoras com outras disciplinas? E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais? Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?

Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:

– Quero ver as avaliações da Provinha Brasil, da Prova Brasil e demais testes e reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos  para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade. Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto.

E vê lá se não vai reprovar alguém! Lembre-se que você ainda não é professor efetivo…

Jesus deu um suspiro profundo, pensou em ir à sinagoga e pedir aposentadoria proporcional aos trinta e três anos. Mas, tendo em vista o fator  previdenciário e a regra dos 95, desistiu.

Pensou em pegar um empréstimo consignado com Zaqueu, voltar pra Nazaré e montar uma padaria…

Mas olhou de novo a multidão. Eram como ovelhas sem pastor… Seu coração de educador se enterneceu e Ele continuou:

-“Felizes vocês, se forem desrespeitados e perseguidos, se disserem mentiras contra vocês por causa da Educação. Fiquem alegres e contentes, porque será grande a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram outros educadores que vieram antes de vocês”.

Tomé, sempre resmungão, reclamou:
– Mas só no céu, Senhor?

– Tem razão, Tomé – disse Jesus – há quem queira transformar minhas palavras em conformismo e alienação.. Eu lhes digo, NÃO! Não se acomodem!

Não fiquem esperando, de braços cruzados, uma recompensa do além! É preciso construir o Paraíso aqui e agora, para merecer o que vem depois…

E Jesus concluiu:

– Vocês, meus queridos educadores, são o sal da terra e a luz do mundo…

(Prof. Eduardo Machado – MG)

Problemas de Comunicação Religiosa
(Luiz Fernando Veríssimo)

-Papai, o que é Páscoa?
– Ora, Páscoa é… bem… é uma festa religiosa!
– Igual Natal?
– É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na
Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
– Ressurreição?
– É, ressurreição. Marta vem cá!
– Sim?
– Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu
jornal.
– Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o
que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele
ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
– Mais ou menos… Mamãe, Jesus era um coelho?
– Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo
é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse
menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos
domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele
solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe!
– Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
– É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no
catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
– O Espírito Santo também é Deus?
– É sim.
– E Minas Gerais?
– Sacrilégio!!!
– É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?
– Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o
Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende
direito. Mas quando você for ao catecismo a professora explica tudinho!
– Então como você acredita em algo que você não entende? Bom, se Jesus não
é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
– Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de
presente ele traz ovinhos.
– Coelho bota ovo?
– Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
– Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
– Era, era melhor, ou então urubu.
– Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu?
– Isso eu sei: na sexta-feira santa.
– Que dia e que mês?
– ??????? Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na
sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.
– Um dia depois.
– Não, três dias.
– Então morreu na quarta-feira.
– Não, morreu na sexta-feira santa… ou terá sido na quarta-feira de
cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e
ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de
catecismo!
– Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
– É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do
Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
– O Judas traiu Jesus no sábado?
– Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!
– Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
– É, boa pergunta. Filho, atende o telefone pro papai. Se for um tal de
Rogério diz que eu saí.
– Alô, quem fala?
– Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?
– Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau.
– Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
– Cristo. Jesus Cristo.
– Só?
– Que eu saiba sim, por quê?
– Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo
Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
– Coitada!
– Coitada de quem?
– Da sua professora de catecismo!!!